Ao amor, outra chance.


D
epois de muito tempo o ônibus vem se aproximando. Faço sinal assim como a maioria das pessoas que se encontravam no ponto. Subo as escadas, pago a passagem e escolho um banco alto. É um costume que tenho desde pequena.
O veículo se movimenta, duas mulheres conversavam banalidades a três bancos a minha frente. Nem um pouco interessada no que elas diziam, remexi a minha bolsa a procura de meu mp4. Coloco um fone em cada ouvido e um jazz agradável começa a tocar.

Eu estava com muito sono, meus olhos pesados indicavam que conseguiria dormir mesmo com tantos quebra-molas. Era sexta-feira, um bom motivo pra se alegrar. Acredito que a maioria dos passageiros pensava isso. Mas comigo era diferente, algo me incomodava e eu sabia muito bem o que era. Na verdade tenho tentado fugir de tal situação, sempre com a desculpa do resolvo depois. Mas não dava mais pra alimentar a minha covardia. Era errado com os meus sentimentos e os de Leo.

Tento prestar atenção na letra da música, mas não consigo. Abro o meu fichário, onde faço as anotações da faculdade. Pego um caneta e começo a escrever uma carta. Precisava transbordar tudo que não estava certo. Nosso namoro encontrava-se num momento muito ruim, o que era pra ser dito era silenciado. O que tinha que ser calado, era falado. Não dava pra continuar desse jeito, se não chegaria ao término pelo menos daríamos um tempo. Esse tal tempo algumas vezes significa fim de namoro. Nesse período ele poderia conhecer outra moça, eu poderia conhecer alguém também. Ou talvez não.

Desvio os olhos da folha e observo o céu nublado, seco umas lágrimas que teimam em escorrer. Volto a olhar as pautas azuis repletas de palavras, já estava pronta pra dobrar o papel e guardar em minha bolsa. Quando um vento forte faz a minha folha voar pra longe. Nem pude segurá-la. Lá se foi minha carta-decisão, carta eu não tenho coragem de dizer tudo isso na sua frente.
Com minha distração só percebo depois que o ônibus havia passado do ponto. Irritada faço todo o trajeto de volta pra casa. Já em frente ao portão procuro pelo chaveiro.
Dentro de casa coloco a bolsa e o fichário na poltrona e sento no sofá perto do violão.
Violão de tantas e tantas melodias. Músicas de noites de insônia, dia com chuva, noites românticas... Ao ouvir um barulho vindo da cozinha, seco minhas lágrimas e caminho até lá. Onde encontro Leo lavando a louça, me aproximo devagar e o abraço por trás. Ele se vira e me abraça. Encarando os meus olhos diz.

- Sei que o nosso namoro está ruim, mas eu te amo. Muito!
Era o momento pra dizer tudo, mas disse uma coisa muito diferente.
- Está ruim... Mas podemos dar um jeito, meu amor. –digo sorrindo.
Leo sorri também e depois me beija. Estava feliz pela carta que se perdeu. E por ter um amor que vale muito a pena ser arrumado. Um amor que merece mesmo outra chance.

5 comentários:

  1. Lembrei do meu namoro, já morto e enterrado. As coisas não iam bem e enrolei tempo demais para por um ponto final nisso. E te conto que não há melhoras, não, pequena. Quando começa a desandar, não há o que faça voltar pro trilho.

    Negócio é mesmo decarrilhar.

    Beijo doce.

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  2. "Um amor que vale muito a pena ser arrumado" - Linda essa frase, além do texto inteiro com todo esse amor dosado em palavras.
    E se os ventos levaram as palavras escritas, deixe-se voar também, algumas vezes só o amor se basta.
    Beijo enorme, Joyce ;*

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  3. Tem uma saudade incômoda, aqui dentro, clamando a sua presença para aquelas conversas bonitas de sempre.

    Você é linda.

    Vê se aparece! ;*

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  4. Que lindo se todos fossem assim.
    Também lembrei do meu namoro, que se perdeu. Amor também se eterniza em lembranças.



    :*

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  5. ah, Joyce, que lindo!
    acho que eu posso dizer que tenho um amor assim... que já andou capenga, mas sempre vae a apena arrumar.
    tentar consertar é muito mais válido que desistir, se há amor, ir atrás do melhor é quase uma obrigação! rs

    lindo lindo. ^^

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