Café quente e o retrato de um cotidiano.


Chego à estação e verifico as horas. Não estava atrasada. Sento e começo a ler uma revista enquanto bebo café. Que por sinal estava muito quente, mas por ter proteção no copo não conseguia sentir contato intenso na palma da minha mão. Lia com atenção uma matéria muito boa. Foi quando num gole pequeno e uma virada de página deparo-me com a seguinte imagem.

Sentados do outro lado, um homem e uma mulher dividiam um banco vermelho. Separados apenas por centímetros. Deixei a minha revista de lado e comecei a observá-los.
Não fui notada por ambos e usando de total sinceridade, acredito que um não notou a presença do outro. Ou preferiam assim. Cada um em seu canto. Não sei explicar, mas os achei muito interessantes e os assistia sem receio de ser surpreendida de maneira constrangedora. Daquele jeito que acontece quando você fica muito tempo olhando uma pessoa, e de repente ela se vira e os olhares se encontram. Pois bem, não estava me importando muito com isso.

A moça trajando roupas despojadas, olhava em direção contrária enquanto mexia nos cabelos. O senhor por sua vez encontrava-se de olhos fixos em sua pasta preta. Em meio a goles de café, pensava no desperdício de diálogo que eles teimavam em silenciar. Sei que nem todo mundo tem facilidade em iniciar conversas com desconhecidos, mas imagine a quantidade de experiências que poderiam ser trocadas com o simples ato de falar.

A moça de cabelos pretos, contaria que já tivera muitas paixões e ainda espera, mas não procura pelo amor. Contaria também que já fora a muitas festas e agora está num momento mais tranquila. O senhor depois de ouvir tudo com atenção, diria que nunca gostou muito de festas. Que sempre fora quieto desde sua juventude, que a timidez ajudou bastante. Acrescentaria dizendo que sempre gostou mais de ficar em casa lendo, e num meio sorriso falaria que encontrara seu bonito amor na faculdade e o tem até hoje. A jovem com um sorriso largo diria que acho belo um amor assim. O senhor a aconselharia a nunca desistir de encontrar o seu.

Um barulho vindo de longe me desperta pra realidade, era o metrô que se aproximava. Pego as minhas coisas e jogo o copo vazio no lixo. Aproximo-me espero a porta se abrir e entro. Escolho por um banco e sento logo. Ainda fiquei olhando a moça e o senhor. Ela olha na direção dele. Talvez começassem a conversar, ou não. Volto minha atenção à revista quando o metrô começa a se locomover. Sorrio com a sensação de ter montado um peça de teatro. Com toda certeza tudo isso mudou um pouco do tédio dessa estação.



Pauta para o Palavras mil.

Foto retirada do site olhares.

8 comentários:

  1. Durante a faculdade, quando passava maior parte do meu tempo em São Paulo, me coloquei tantas vezes a questionar o desconhecido. Ora dentro de um metrô lotado, olhava ao meu redor tentando imaginar a quantidade de histórias que se encontravam ali, unidas no mesmo vagão, a história de vida de cada um, sofrimentos e amores.
    Outras, ao pegar um taxi me deslumbrava em qtas histórias novas me eram contadas através de um taxista animado, que muito sabia sobre histórias alheias, e em menos de meia hora de corrida, divida as mesmas comigo. Outas tantas no longo trajeto de volta pra casa, me sentava ao lado de um senhor, ou senhora, que se animava a abrir a carteira e me mostrar fotos de filhos e netos.
    É fascinante quantas histórias o mundo esconde.
    Um beijo grande!

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  2. Adorei seu texto, adorei seu blog. Ambos incríveis.
    Seu texto foi sutil, pequeno e muito belo. Você sabe usar as palavras, e agora seguirei as suas!
    Então prazer, Marina.
    Beijos <3

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  3. Tenho vontade de parar para conversar com desconhecidos, compartilhar experiências fora do comum. Mas hoje em dia é tão difícil falar com alguém; o mundo anda corrido demais e as pessoas já não correm, voam. haha

    Um beijo, querida.

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  4. Joyce linda, tenho mania como essas da narradora desse mini conto. De ficar criando imagens, falas para as pessoas na rua. É algo que tira o tédio e faz o cérebro trabalhar.

    Ótima participação no Palavras mil.
    Um beijo.

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  5. Joyce
    Magnífica a sua história, a maneira como conduziu o texto.Adorei! Participação única.
    Boa Sorte!

    Beijos e boa semana

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  6. Joyce
    Parabéns pelo merecido 1º lugar, pelo pódio com todo louvor.

    Beijos

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  7. Mas bah, Joyce.
    Vim trazer meus parabéns, estamos compartilhando o pódio do Palavras Mil 21ª Edição.
    Gostei do seu conto, na realidade me vi; tenho esse hábito de ficar observando pessoas e criando histórias sobre elas.
    Parabéns e abração.

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  8. Parabéns pelo seu merecido lugar. Um belo texto..Uma bel forma de se expressar. cada de nós se manifesta de maneira muito belas. abrimos o coração e deixamos o pensamento fluir tranquilamente.
    Tbém participei. Infelizmente não pude vir antes.
    mas venho com muito carinho felicitá-la e avisar que já postei o meu tema do dia dos pais.
    Pois estarei viajando neste final de semana. Vou ver meu pai.
    Caso queira conferir este é o endereço. http://sandrarandrade7.blogspot.com

    Caso vir mais tarde está neste endereçohttp://sandrarandrade7.blogspot.com/2010/08/coletiva-das-palavras-mil-e-in-verbis.html
    Vou te esperar para compartilhar.
    Carinhosamente,
    sandra

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