Capítulo 4: A francesinha.

Saio da cama antes mesmo do meu relógio despertar. Nem pude contar como realmente foi meu primeiro dia de aula no Abreu, já que meus pais também não sabem como é o verdadeiro Toni. Me desfaço de minhas roupas, e entro no banheiro. Banho frio foi à melhor escolha para a manhã que começou quente demais. Enquanto a água me molhava por inteiro, meu pensamento chegou até Lucy. Sendo mais preciso no desenho em sua mão.
Saindo do banheiro enrolado numa toalha, vejo meu cachorro deitado na cama.

– E aí, amigão!
Ele late em resposta. Peguei meu uniforme e coloquei sobre a cama. Estava para pegar as minhas calças, quando Vince saiu correndo com o meu cinto. O que vocês acham que eu fiz?! A: Peguei outro cinto? B: Corri atrás do meu cachorro? Acertou quem escolheu a opção b. Corri como se estivesse numa maratona, bom... É um dos meus cintos prediletos. Vejo quando Vince entrou no jardim, e eu o segui. Meu grande erro foi esse. Pois dou de cara com minha mãe e suas amigas. E eu... Bom... Estava só de cueca. Uma das amigas de dona Marina pegou um leque dentro de sua bolsa, e começou a se abanar como se estivesse dentro de uma sauna. Segurei minha imensa vontade de soltar uma gargalhada. Diante de tantos rostos conhecidos e ruborizados, avistei uma menina que parecia uma boneca de porcelana tamanha sua delicadeza. A pele bem clarinha, cabelos pretos ondulados que caiam graciosamente pelos ombros, lábios desenhados e olhos cor de mel. Mencionando também suas bochechas coradinhas de vergonha. Que me faziam sorrir. A verdade é que eu nunca havia visto uma garota corar por minha causa. Nem mesmo Lucy, que pensando bem, era mais fácil a ruiva me fazer ruborizar. Ah, Pimentinha!

Eu muito sem noção me aproximei para cumprimentar a menina que eu nem sabia o nome ainda, que corou mais uma vez devido a minha figura quase nua. Pergunta se eu achei engraçado? Nem preciso responder. Só que fui impedindo por minha mãe, que me puxou pelo braço.

– Se vista primeiro. Assim você estará mais decente para cumprimentar as pessoas.

– Desculpe-me, eu não pretendia fazer um showzinho para as suas amigas. – falei rindo.

– Quase soltei uma gargalhada quando vi a Dora se abando daquele jeito com o leque.

– Ah, não é pra tanto.

– Não é pra tanto, meu filho?! Certo, elas te viram de cueca quando era pequeno. Mas agora a coisa é diferente. Você não é mais aquele garotinho gordinho e fofo.

Eu ri.

– Vá se vestir, antes que a Sofia desmaie. A menina parece um pimentão.

Então esse é o nome da coisinha linda?! Bonito.

– O seu cinto.

– Todo babado. – falei com uma careta.

– Limpe-o ou pegue outro. Mas agora vá se vestir, Nando.

Desço minutos depois vestido com o meu uniforme.

– Agora sim. – minha mãe falou sorrindo.

– Bom, minhas amigas você já conhece.

– Bom dia, senhoras. – cumprimentei de forma educada. No que elas responderam com sorrisos.

– Sofia querida, esse é o Fernando.

Me aproximei e segurei sua delicada mão.

– Prazer. – falou com um sotaque bonitinho demais.

– O prazer é meu. – disse sorrindo.

Enquanto tomávamos café. Fiquei sabendo que Sofia era sobrinha de Dora, e que se mudara da França com os pais e os irmãos. E agora iria estudar no Abreu, fazendo o 3° ano.

– Fernando, meu filho. Você sabe como é difícil essa coisa de ser aluno novo.

– Eu sei.

– Então fique perto da Sofia. Mostre o colégio e não deixe de apresentá-la a seus amigos. Ah, mais uma coisa.

– O quê?!

– Eu sei que você não vai ficar muito tempo perto dela. Por causa da Lucy. – disse com um sorrisinho.

– Muito engraçado, dona Marina. – falei rindo.

– Vem cá garoto, que eu quero te dar um beijo.

Minha mãe deu um beijo estalado na minha bochecha, eu retribui. Dentro do carro vejo Sofia que folheava um livro. Durante todo trajeto ficamos em silêncio, por algumas vezes olhei a francesinha de soslaio. Que sorria com as palavras do livro que tinha em mãos. Mas em certo momento nossos olhares se encontraram. Sofia corou, eu sorri. Ela corou mais ainda e eu abri um sorriso largo demais. Tenho certeza que isso vai acontecer outras vezes.
Chegando ao colégio, saio do carro e abro a porta para Sofia.

– Obrigada.

– Não há de quê.

Meu motorista seguiu em frente com o carro, Sofia e eu cumprimentamos o porteiro e entramos.
– Quero que você conheça os meus amigos.

– Será que vão gostar de mim? – perguntou me encarando com seus olhos cor de mel.

Por um instante as palavras fugiram. Percebendo um leve rosado nas bochechas da francesinha, devido o tempo que a olhei sem dizer nada. Achei melhor responder sua pergunta.

– Sim, claro que sim.

– Que bom.

– Mas eu quero te mostrar uma coisa antes.

Segurei a mão de Sofia, e a puxei com delicadeza. Ao entrarmos na biblioteca, um sorriso enorme e lindo tomou conto de seu rosto. Os olhos brilhavam como de criança diante de um presente novo. Eu a observava, não... Admirava era a palavra certa.

– Nossa! Fernando... É incrível! Amei!

– É incrível mesmo.

Não havia ninguém na biblioteca, nem mesmo a bibliotecária tinha chegado ainda.

– Eu ficaria aqui por um bom tempo.

Eu sorri.

– Bom, o sinal vai bater logo. Então, quer conhecer os meus amigos?

– Claro.
Chegando a Sala dos Alunos, abri a porta e entrei primeiro.

– Oi, pessoal.

– Oi, Nando. – eles responderam.

– Quero apresentar uma pessoa.

Sofia apareceu com um sorriso tímido.

– Sofia, esses são os meus amigos. Danilo, Felipe, Giovanna, Monique e...

– Lucy Cagliari Montenegro! – completou com um sorriso imenso. – Acho o trabalho da Nina sensacional.

– Obrigada.

Nina é uma renomada estilista. Conhecida no mundo da moda por sua criatividade e roupas bem desenhadas. Conto que certa vez fui assistir um de seus desfiles e achei muito divertido.
Sofia conversava animada com todos, De repente Lucy levantou e caminhou até a mesa de sinuca. Eu me aproximei e disse:

– Boa tacada.

– Obrigada.

– Algum problema?!

– Nenhum. Por quê?!

– Seu tom de voz.

Pimentinha deu mais uma tacada.

– Minha voz está normal.

– Não está e eu te conheço.

– Ah, não Fernando! Não começa com isso.

– Isso o quê?!

– Eu digo que está tudo certo. Você fala que não, e completa dizendo que me conhece muito bem.

– Você está irritada comigo?!

Lucy jogou o taco sobre a mesa, se aproximou, e com uma mão na cintura disse:

– Você acha que as coisas giram ao seu redor, não é bonitão?!

Estávamos próximos demais, o que me proporcionou um ligeiro e gostoso arrepio. Não conseguia responder nada. Estava ali encarando os olhos verdes da ruiva mais incrível que eu conheço, que fica lindinha irritada. Percebendo que eu não diria uma palavra sequer, Lu se afastou.

– Com licença! O sinal bateu. – disse séria. – Vocês não ouviram?!

Lucy estava irritada. Por um motivo que eu gostaria de saber. Mas o conselho é: Não mexa com uma ruiva nervosa. Se a ruiva em questão for a Pimentinha... Saia da frente!

Sei que ficou imenso, mas é um jeito de ter poucas partes. Bom, tenho que dizer que ri escrevendo esse capítulo. haha! Espero que gostem. E obrigada pelos comentários.

Beijos!